Estudos diversos vêm indicando que, para evitar que as temperaturas subam mais de 1,5° C, deve haver uma grande queda nas emissões de gases de efeito estufa (GEEs). Para isso, é preciso desenvolver cidades compactas para pedestres, ciclistas e para quem utiliza o transporte público, bem como adotar, de forma rápida e estratégica, veículos elétricos, com foco no transporte público.
O novo estudo O Cenário de Cidades Compactas Eletrificadas, desenvolvido pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP) e pela Universidade americana UC Davis, destaca que somente com a combinação de estratégias para promover cidades mais compactas e para induzir a adoção de veículos elétricos será possível reduzir as emissões cumulativas de gases de efeito estufa do transporte urbano de passageiros até 2050. Essa combinação reduziria as emissões do setor em cerca de 50% nos próximos 30 anos, pouco abaixo do que é necessário para limitar os danos iminentes das mudanças climáticas.
Durante a última Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), foram estabelecidas iniciativas a serem seguidas pelos países signatários para redução da emissão de poluentes.
Entre elas, os veículos elétricos foram apontados como uma possível solução climática. Um acordo multilateral — assinado por instituições do setor público e privado — comprometeu-se a realizar a transição necessária para que 100% dos novos veículos vendidos no mundo todo até 2040 tenham tecnologia com zero emissões.
Quinze países também assinaram um compromisso separado para atingir 100% de vendas de caminhões e ônibus novos com emissão zero até 2040. Embora a eletrificação, principalmente de veículos individuais, seja um passo importante, por si só não é suficiente para enfrentar a crise climática.
A eletrificação tem sido frequentemente apontada como uma solução fácil que aliviará a carga de gases de efeito estufa emitidos pelos veículos. Não é bem assim. A eletrificação extensiva de veículos particulares é capaz de promover apenas parte da redução necessária.
No entanto, a promoção de cidades compactas e acessíveis e a difusão do transporte público elétrico ajudarão o planeta a reduzir as emissões ao nível necessário. Com essa abordagem coordenada, as emissões de gases de efeito estufa do transporte urbano de passageiros podem ser reduzidas em 59 gigatoneladas (Gt) CO2 — e até 2050.
Em 2015, o transporte urbano de passageiros representou aproximadamente 10% de todas as emissões antrópicas (produzidas como resultado da ação humana) de gases de efeito estufa em todo o mundo, mas as emissões têm aumentado constantemente à medida que se torna mais fácil adquirir veículos particulares nas economias emergentes.
Para cumprir as metas do Acordo de Paris e manter o aquecimento abaixo de 1,5 °C e evitar as mudanças climáticas catastróficas), as emissões cumulativas de dióxido de carbono equivalente do transporte público urbano devem cair aproximadamente 54 Gt nos próximos 30 anos em relação à tendência atual.
As cidades compactas não são apenas melhores para o meio ambiente, mas também proporcionam deslocamentos de maneira muito mais equitativa. Muitas famílias em países em desenvolvimento gastam até um terço de sua renda em transportes.
No Brasil, o comprometimento do orçamento familiar com o transporte é de 13%, de acordo com o Ipea. Esse ônus financeiro impede que as pessoas ganhem mobilidade econômica e pode mantê-las presas em um ciclo de pobreza. Com mais densidade, as cidades se tornam mais caminháveis, permitindo que as pessoas se desloquem para os destinos a pé ou com transporte público. A densidade pode nos levar à equidade.
O desenvolvimento de centros urbanos compactos e densos exige políticas sobre o uso do solo, pedestres, bicicleta, transporte público e desincentivo ao uso de automóveis. Em cidades compactas e de uso misto, as pessoas vivem a distâncias curtas de suas necessidades diárias, o que significa que podem caminhar ou pedalar até elas.
Essas cidades também tornam o transporte público mais eficiente por terem mais destinos (como moradias, empregos e serviços) nas redondezas das estações de transporte público, além de distâncias mais curtas entre as estações. Algumas cidades que adotaram essas oportunidades em suas políticas de uso do solo são Kigali, em Ruanda; Paris, na França; Singapura; Portland, nos EUA; e Curitiba, no Brasil.
“As nossas cidades foram planejadas para o uso do carro, e por isso é muito comum as pessoas acharem que a solução para o problema dos transportes e das emissões seria a eletrificação de carros particulares.
Mas isso não resolverá o problema”, afirma Clarisse Cunha Linke, diretora executiva do ITDP Brasil. Jacob Mason, do ITDP, um dos autores do relatório, complementa a ideia: “O mundo precisa aplicar a mesma energia e dedicação para construir cidades compactas. Caminhar, pedalar e usar transporte público são igualmente importantes se quisermos manter as mudanças climáticas abaixo de níveis catastróficos.”
Via ITDP Brasil.